O tango argentino e o bom gigante

Outubro 26, 2007

“O tango argentino e o bom gigante”. Daria um belo nome de filme, porventura de uma comédia romântica, mas pode também servir para intitular a história do jogo Benfica – Celtic, da passada quarta-feira, a contar para a terceira jornada da Champions League. As personagens, essas, chamam-se Di Maria e Óscar Cardozo.

Cardozo

Quando tudo parecia irremediavelmente perdido, com a equipa da Luz na mira de ceder mais dois pontos no seu terreno, eis que surge o génio de um chico alegre e franzino, mostrando que nem só de bailado se faz o tango argentino. Concentração, visão, subtileza, precisão, e classe, muita classe, fazem também parte da dança que é o futebol nos pés de Di Maria. E claro, tudo isto só funciona na perfeição quando do outro lado também se dança ou joga com elegância. O par é um gigante, mas não só de altura. Aquela recepção de peito, gesto técnico perfeito, e o consequente selar da dança, o golo que arrancou os aplausos e soltou as gargantas do anfiteatro encarnado, permitem que se apelide Cardozo de bom gigante.

O internacional paraguaio demonstra, cada vez mais, possuir um conjunto de artefactos pouco comuns em jogadores de tão elevada estatura. Para além de ser uma referência na área, algo que não se consegue só pela altura, mas sobretudo pela ocupação de espaços, pela capacidade de choque e, também, pelo instinto de conseguir estar no sítio certo para tentar fazer golo.  Cardozo tem tudo isto e tem muito instinto, mesmo que os golos tenham custado a aparecer. Certo é que o paraguaio está onde é preciso. Resta-lhe ganhar a confiança necessária, e, aí, poderá se tornar num ponta-de-lança temível, à imagem de um Luca Toni ou Roy Makaay. 

Depois, para além de ser uma referência na área, é também, muitas vezes, o primeiro construtor de ataque do futebol benfiquista. Ganha imensas bolas divididas, pelo ar e pelo solo, joga muito bem de costas para a baliza, segurando a bola e dando espaço para que os homens da linha intermédia subam no terreno e dêem continuidade ao lance ofensivo. Mas, como nem só de virtudes vive um bom gigante, o jogo aéreo no momento da finalização é ainda precário. Lembrem-se daquela bola adocicada num cruzamento com conta, peso e medida do vizinho Rodriguez. Talvez umas horas de visionamento de DVD`S com as fantásticas cabeçadas concretizadoras do lendário Mário Jardel possam ajudar.

 Dois homens do colectivo encarnado serão igualmente decisivos para o aumento da veia concretizadora do paraguaio no jogo aéreo. Di Maria e Rodriguez, abertos nas alas, têm tudo para municiar, volto a repetir, em conta, peso e medida o bom gigante.


Batalha romana perdida no meio-campo

Outubro 26, 2007

Juan abre a contagem

Em Roma, vitória justa por parte da equipa italiana. Criou mais ocasiões de golo, forçou o Sporting a recuar no terreno e criou bastante perigo em cruzamentos e lances de bola parada.

Sem Polga no eixo defensivo, Paulo Bento optou por “prender” Miguel Veloso no sector mais recuado, limitando o raio de acção do jovem leão, não lhe dando a ousadia que necessita para subir no terreno com a bola colada ao pé esquerdo, explanando o futebol ofensivo e gerindo os tempos de ataque como tão bem sabe fazer.

Com um meio campo em claro défice nas recuperações de bola, entregues (quase) exclusivamente a João Moutinho “encravado” no cerco montado por De Rossi e Pizzaro, deitando ao mesmo tempo um olho às movimentações de uma segunda linha formada por Mancini, Giuly e Cassetti, o Sporting carente de centro campistas robustos teve em Izmailov e Vukcevic as armas que dispunha para fechar as alas. O russo tentou cumprir defensivamente como é seu hábito e a espaços surgiu em zona de finalização. O sérvio por sua vez, enquanto teve pulmão foi preciosa ajuda a Ronny no flanco esquerdo. No centro, Romagnoli, só na segunda parte conseguiu por em prática aquilo que se lhe pede, transposição rápida para o ataque tentando esticar o jogo ofensivo dos lisboetas, procurando solicitar mais jogo à frente de ataque, onde um ingénuo Djaló e um desamparado Liedson não conseguiam espaços para concluir.

Não se pode dizer que a Roma foi dona e senhora da partida, aliás em determinadas alturas do jogo o Sporting esteve por cima dos acontecimentos, mercê de um futebol “rendilhado” e de pé para pé, faltando-lhe claramente mais presença nos últimos metros do terreno para assustar convincentemente as redes de Doni. Parece-me que é no último terço do relvado que residem as dificuldades leoninas. Faltam desequilibradores nas contas de Paulo Bento, faltam jogadores que assumam as rédeas da equipa ofensivamente para que um ponta-de-lança da craveira de Liedson possa ser potencializado.

Uma nota final para Purovic e Paredes (extensível a outros atletas menos utilizados da equipa sportinguista). Não se compreende como jogadores deste nível possam representar uma instituição com o peso e a dimensão da equipa de Alvalade. Purovic não tem presença na área, não se vislumbra o seu jogo aéreo, não é forte de costas para a baliza, nem tão pouco cria espaços para os companheiros. Paredes? Foi sem duvida um excelente jogador, mas hoje essa performance é uma miragem. A sua predisposição e movimentação no terreno de jogo são no mínimo…caricatas. Erros de “casting” que ocupam o espaço de jovens como Adrien Silva e outros mais. É a cultura que temos, e que pese embora tenha vindo a ser esbatida, ainda hoje perdura. O que vem de fora é que é bom.


Copo curto para a Carlsberg Cup

Outubro 22, 2007

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Jogos da Taça da Liga, denominada de Carlsberg Cup, são sinónimo de rotação de atletas para as equipas maiores do futebol nacional. Os técnicos aproveitam para rodar, dentro do possível  – os regulamentos impõe um mínimo de cinco titulares dos últimos dois jogos da Liga – os plantéis, fazendo alinhar os jogadores menos utilizados. Assim fez Jesualdo Ferreira e o Fátima aproveitou. Paulo Bento imitou o professor e o mesmo Fátima, para já, voltou a aproveitar. Camacho não destoou dos seus rivais e o Setúbal deu um ar da sua graça no inferno apagado da Luz.

Fátima, Setúbal, Guimarães e Estrela só provaram que os três grandes, Porto, Benfica e Sporting, estão longe de possuir plantéis vastos em qualidade. A tal premissa de ter dois jogadores para a mesma posição, se existe, existe apenas em número, não em qualidade. Vejamos. Gladstone está longe de transmitir a segurança e a liderança de Polga à defesa leonina. No meio-campo sportinguista, só o Paredes que jogou no Porto há alguns anos faria esquecer por momentos o cerebral Veloso – a âncora insubstituível da nau de Alvalade – e, talvez, ainda mais dramático é pedir a Pontus Farnerud para preencher a zona, leia-se, quilómetros, em que João Moutinho se move. Celsinho até poderá ser alternativa ao previsível Romagnoli, mas para já falta-lhe ritmo.

Virando a agulha para o outro lado da segunda circular, o panorama não é mais animador. Miguelito está a anos-luz do jogador que marcou pontos ao serviço do Rio Ave ou do Nacional da Madeira – nos insulares rendia a lateral ou a extremo -, muito longe de ser alternativa a Léo ou ao adaptado Paulo Ferreira na Selecção Nacional. No eixo defensivo, colocar Zoro a formar dupla com Luisão pode ser letal. Falta velocidade, espontaneidade e agilidade. Coentrão e Bergessio – figuras de proa na fase de preparação da época – estiveram completamente ausentes da partida. O argentino ainda teve a oportunidade de fazer o gosto ao pé, mas, mais uma vez, voltou a ser perdulário, revelando uma notória falta de instinto para jogar na zona de finalização. Houve ainda Yu Dabao, esforçado, lutador, mas muito inocente. Voltou Mantorras e com ele a Luz acende-se, porém a luminosidade de ideias que o angolano traz ao ataque encarnado é demasiado ténue. Valeu Adu, que trouxe algum esclarecimento e com ele o golo que disfarça, em parte, as carências de um plantel demasiado curto para todas as frentes.

Será de condenar a opção de Jesualdo, Paulo Bento e Camacho rodarem os plantéis nos jogos desta nova competição, arriscando-se a ser vítimas de “tomba-gigantes”, promovendo “festas da taça” antecipadas? Penso que não. Se os planteis são compostos por 22 jogadores ou mais, estes terão de mostrar algum valor. Mais do que valor, diria estofo. Se não conseguem impor-se nos momentos em que os técnicos precisam, independentemente do adversário se chamar Fátima ou Estarreja, muito terá de ser reflectido pelos homens-fortes do futebol nos respectivos clubes. 


Uma questão de oportunidade

Outubro 22, 2007

Carlos Pereira, Presidente do Marôimo

Carlos Pereira, Presidente do Club Sport Marítimo, admitiu na passada semana que a direcção do clube madeirense está fortemente interessada em tentar adquirir o passe de Ariza Makukula a título definitivo. O ponta de lança português, na berra pelo importante tento apontado frente ao Cazaquistão, tem contrato com o Sevilla e na eventualidade de se confirmar a sua saída do clube andaluz, certamente não será efectuada a troco de “meia dúzia de patacas”. 

O caso de Makukula mais não é que um case study a seguir por parte dos gestores dos clubes profissionais da nossa praça. Não se entende o timing escolhido pela direcção do Marítimo, para a aquisição do atleta natural do Congo. Se a qualidade do jogador estava já mais que comprovada nas exibições assinadas ao serviço das selecções de base nacionais, e na sua passagem por Espanha, porque não tentar a sua contratação logo no inicio de época, precavendo uma inflação no preço do activo mais do que prevista? Hoje Makukula é internacional AA, marcou na estreia, foi manchete em todo o país, e como se não bastasse, (ainda) pertence aos quadros de uma das equipas mais competitivas da Europa.

Posto isto, o valor do seu passe está hoje substancialmente mais elevado do que no inicio de época. Terá o Marítimo “astúcia” e rigor, para, por um lado convencer o jogador a mudar-se definitivamente para o Funchal, abdicando de um salário relativamente elevado, e por outro libertar o atleta das amarras espanholas pelo preço da chuva? Enfim, demasiadas premissas a ter em conta, sobretudo quando poderiam ser evitadas, longe dos holofotes da imprensa e com a brevidade necessária. No futebol não há impossíveis, mas muito sinceramente, não creio que Carlos Pereira ainda vá a tempo de segurar o “abono de família” verde-rubro.