“O tango argentino e o bom gigante”. Daria um belo nome de filme, porventura de uma comédia romântica, mas pode também servir para intitular a história do jogo Benfica – Celtic, da passada quarta-feira, a contar para a terceira jornada da Champions League. As personagens, essas, chamam-se Di Maria e Óscar Cardozo.
Quando tudo parecia irremediavelmente perdido, com a equipa da Luz na mira de ceder mais dois pontos no seu terreno, eis que surge o génio de um chico alegre e franzino, mostrando que nem só de bailado se faz o tango argentino. Concentração, visão, subtileza, precisão, e classe, muita classe, fazem também parte da dança que é o futebol nos pés de Di Maria. E claro, tudo isto só funciona na perfeição quando do outro lado também se dança ou joga com elegância. O par é um gigante, mas não só de altura. Aquela recepção de peito, gesto técnico perfeito, e o consequente selar da dança, o golo que arrancou os aplausos e soltou as gargantas do anfiteatro encarnado, permitem que se apelide Cardozo de bom gigante.
O internacional paraguaio demonstra, cada vez mais, possuir um conjunto de artefactos pouco comuns em jogadores de tão elevada estatura. Para além de ser uma referência na área, algo que não se consegue só pela altura, mas sobretudo pela ocupação de espaços, pela capacidade de choque e, também, pelo instinto de conseguir estar no sítio certo para tentar fazer golo. Cardozo tem tudo isto e tem muito instinto, mesmo que os golos tenham custado a aparecer. Certo é que o paraguaio está onde é preciso. Resta-lhe ganhar a confiança necessária, e, aí, poderá se tornar num ponta-de-lança temível, à imagem de um Luca Toni ou Roy Makaay.
Depois, para além de ser uma referência na área, é também, muitas vezes, o primeiro construtor de ataque do futebol benfiquista. Ganha imensas bolas divididas, pelo ar e pelo solo, joga muito bem de costas para a baliza, segurando a bola e dando espaço para que os homens da linha intermédia subam no terreno e dêem continuidade ao lance ofensivo. Mas, como nem só de virtudes vive um bom gigante, o jogo aéreo no momento da finalização é ainda precário. Lembrem-se daquela bola adocicada num cruzamento com conta, peso e medida do vizinho Rodriguez. Talvez umas horas de visionamento de DVD`S com as fantásticas cabeçadas concretizadoras do lendário Mário Jardel possam ajudar.
Dois homens do colectivo encarnado serão igualmente decisivos para o aumento da veia concretizadora do paraguaio no jogo aéreo. Di Maria e Rodriguez, abertos nas alas, têm tudo para municiar, volto a repetir, em conta, peso e medida o bom gigante.