Sven-Goran Eriksson será tudo indica, o próximo treinador do Sport Lisboa e Benfica. Passados quase 26 anos o destino do sueco está prestes a cruzar-se novamente com o do “gigante adormecido”, o clube das massas, o desgastado glorioso. Impõe-se a reflexão crónica. Que Eriksson é este que se sentará no banco de suplentes encarnado? Que Benfica é este que o sueco irá encontrar pela frente? Para as duas questões a mesma resposta. Nem Eriksson é o mesmo, nem tão pouco a águia se encontra com a saúde de ferro de há duas décadas atrás.
Sven tem hoje 60 anos sublinhados por uma face algo enrugada e um cabelo próprio da idade. Na mala traz alguns títulos conquistados na Suécia, em Portugal e finalmente por Itália, onde construiu o seu nome. O mesmo é dizer que desde 2001-02, aquando da sua passagem para seleccionador Inglês, que o treinador sueco não sabe o que é ganhar. Há sete anos que Eriksson vive na saudade de alcançar o êxito outra vez. É neste contexto que Eriksson e Benfica se encontram em rota de convergência. É uma espécie de reatamento de um namoro antigo. As pessoas mudam, os clubes também. Uns evoluem, outros regridem, outros entram em marasmo desportivo e económico. Por mais que se queiram aproximar e reatar um relacionamento, as diferenças entre ambos podem ser incrivelmente profundas. Resta saber se Sven-Goran Eriksson ainda tem aos 60 anos, força e acima de tudo motivação para procurar reestruturar um clube, devolver-lhe a ambição e restituir-lhe uma identidade diluída no tempo e esmagada pela frenética gula de terceiros. Ou por outro lado se é Portugal um escolha meramente tropical, de boa comida e vida boémia apetecível, um paraíso para pré-reformados financeiramente bem acolchoados.
Se o sueco aterrar em Lisboa com a mesma mentalidade que doutrinou aquando da sua última passagem pela Luz, o Benfica poderá estar relativamente descansado. Contudo, caberá á direcção do clube encarnado, satisfazer as exigências de Eriksson no mercado de transferências. E bem sabemos que se há coisa que Eriksson não prescinde é de milhões para contratar e milhões para receber. Ora milhões são também itens que não rimam bem na luz. Na fenda das indecisões poderá estoirar um novo divórcio assente na insustentabilidade de governar um clube sem estratégia de fundo, de forma meramente superficial, confiando o destino exclusiva e cegamente nas mãos de (mais) um D. Sebastião. É Eriksson o eleito para surgir numa manhã de nevoeiro.